Nossos avós maternos, Damião e Laura, criavam aves em seu quintal. Havia, citando Belchior, galos, noites e quintais, àquela época. Patos, perus e guinéis também faziam a festa naquele ambiente. Meu avô construiu um tanque rasteiro misto de lago e bebedouro, para que os patos nadassem. Me lembro de um casal de patos cujo macho, apelidado de Xavante, pois o preto esverdeado das penas de sua cabeça mais parecia a cor das cabeleiras resplandecentes dos índios guerreiros xavantes do Xingu, dominava aquele ambiente e destacava-se dos outros pela suas extravagantes cores quase metálicas. Não sei quem o batizou assim, mas deve ter sido uma das minhas tias sensibilizada pelo exotismo das fotos de aborígenes estampadas nas reportagens de aventuras das páginas da revista “O Cruzeiro”.
Bem, o certo é que o dito pato Xavante tinha uma companheira de cor marrom com alguns pontilhados negros nas asas e no dorso. É o tão chamado dimorfismo sexual. A natureza dotou, na maioria das espécies, os machos com atrativos visuais aberrantes para a atração da fêmea na época do acasalamento e para identificação e distinção entre os outros machos de sua categoria. Leio isso tudo agora na Wikipédia e fico impactado com o fato de que esse casal de patos era de uma raça pura e selvagem e que habita, ainda hoje, a Ásia, a América do Norte, a Europa e as regiões sub-tropicais do globo terrestre. Anas plathyrhyncus é o nome científico da espécie. Não me perguntem como eles chegaram ao quintal dos meus avós, nem o sabor que eles tinham quando assados, na mesa dos deliciosos pratos servidos no casamento de um certo tio, irmão da minha mãe.
